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História da homossexualidade e 'YAOI' no Japão


Para falarmos da homossexualidade no Japão, começaremos no período medieval até meados do século XIX onde prevalecia a cultura dos Samurais. Nessa época era normal o relacionamento entre mestre (nenjo) e discípulo (wakashu) criando assim o Wakashudo (caminho da juventude), uma prática que acreditava-se ensinar virtude, honestidade e avaliação da beleza para jovens samurais; ou seja, ter um mestre não significava aprender apenas as técnicas de espada mas também crescer como um indivíduo.

Wakashudo

O Wakashudo era amplamente incentivado sendo exposto em obras como Hagakure (Oculto pelas folha) escrito por YAMAMOTO Tsunetomo, 1659. O livro conta com mais de 13 mil sentenças e 11 capítulos contando sobre o código de ética dos samurais e seus costumes.

Um aprendiz, ao se tornar um guerreiro, poderia finalmente parar de prestar favores sexuais ao seu mestre estando livre para procurar um parceiro ou parceira. Durante seu treinamento, mulheres eram permitidas, mas acreditava-se que elas roubavam energia e desviavam o foco em batalha. O filme “Tabu” de OSHIMA Nagisa, 1999 conta a história de um belo aprendiz andrógeno e aborda a questão do Wakashudo.

O mestre que não possuía um aprendiz para se satisfazer podia optar por prostíbulos de homens e mulheres, no geral atores jovens vindo do famoso teatro Wakashu-Kabuki. Além do Wakashu-Kabuki, também existia o Yaro-Kabuki que contava com apresentação de homens adultos travestidos, os Onnagata. Infelizmente essa prática acabou sendo alvo do governo japonês na era Edo e aos poucos veio a degradação desses lugares; atualmente o teatro Kabuki voltou a ser considerado uma cultura importante no Japão mesmo que o tradicionalismo continue a prevalecer, seu elenco no geral é composto apenas por homens.

Kabuki

A cultura do homossexualismo começou a mudar na era Meiji e a chegada da cultura ocidental. Não somente comida, roupas, armamentos, entre outros, vieram ao país, mas também o preconceito fazendo com que a visão dos japoneses mudasse de forma mediana criando-se um tabu para o que antes era incentivado.

Atualmente, apesar de ser um país tolerante em relação a outros, o avanço vem lentamente. Apenas em 2015 o distrito de Shibuya passou a reconhecer a união entre pessoas do mesmo sexo, porém ainda não existem leis específicas de proteção para os homossexuais e o pensamento do “Deru Kugi wa Utareru” (o prego que se destaca é martelado para baixo), ou seja, tudo o que não está no parâmetro da sociedade está sujeito à críticas, ainda é bastante forte no país tirando assim a conclusão que o caminho a se percorrer até o ideal é bastante longo.

Podemos dizer, agora dando uma opinião bastante pessoal, que a abertura do país na era Meiji trouxe malefícios de algo que poderia ser lapidado e ter ficado a frente do mundo todo. A cultura do Wakashudo podia ser um pouco forçada uma vez que os aprendizes não tinham grande escolha, com certeza, porém se o conceito fosse resguardado até hoje provavelmente teríamos um enorme sentimento de liberdade na questão de relações homoafetivas. Desde pequenos eles seriam ensinados a respeitar e principalmente que isso não é errado como muitas pessoas colocam no aprendizado de uma criança; muito pelo contrário, que o caminho da virtude, honestidade e beleza pode ser seguido independente de suas escolhas.

Mas, Miss Rainbow... o Japão é o país mais G.A.Y que eu já vi!

Apesar da sociedade tradicional ser bastante crítica, a aceitação também é algo que ocorre com facilidade (Japão sendo Japão...). A cultura pop não nega esforços para apoiar os homossexuais e ainda incentiva a prática difundindo seus ideais dentro e fora do país; é fácil encontrar programas de TV, musicais, youtubers, mangás, moda e mais uma infinidade de coisas voltadas esse público em específico.

Para citar um exemplo clássico de aceitação, o comediante SUMITANI Masaki é conhecido como Hard Gay e fez um sucesso estrondoso no Japão se tornando referência. Ele é heterossexual e tem dois filhos, ainda assim agradece todos os anos de sucesso e até aceitou pousar para uma revista masculina. Não é preciso fazer parte da sociedade “quadradinha” para ser bem visto.

 

O YAOI no Japão

O termo YAOI¹, como muitos acreditam ser, não é comumente utilizado nas terras nipônicas. YAOI foi um termo usado por volta de 1970 para descrever revistas de paródia (Doujinshis), posteriormente começou a ser usado para indicar que esses Doujinshis e outras obras continham cena de sexo entre homens. Para publicações originais o termo correto seria June, que depois de um tempo foi substituído por Boys Love (essa substituição ocorreu pois ‘June’ era o nome de uma publicação comercial). Resumindo, muitas obras que chamamos de YAOI aqui no Ocidente, lá é enquadrada em Boys Love.

Mas a confusão não para por ai: o BL é voltado para o público feminino, o que não significa que pode ser usado para o material que é voltado para os Gays e, além disso, se você não souber classificar corretamente os nomes poderá estar ofendendo os autores.

Continuando, além dessa classificação temos também o Shonen-ai (amor de menino) que é amplamente usado aqui no Brasil apesar de estar em desuso lá. Enquanto o Boys Love/Yaoi irá trazer o romance explícito, com cenas de sexo e declarações, o Shonen-ai será mais focado num romance subentendido. Um exemplo: Sekaiichi Hatsukoi é classificado como Boys Love e Yuri On Ice, como Shonen-ai; no primeiro temos cenas de sexo, declarações de amor, beijos e até mudança de status e no segundo título apenas fica implícito que os personagens principais formam um casal ao longo da série, sem nenhuma confirmação clara disso.

Nota: Ao procurar uma série para assistir é importante que você fique atenta com essas classificações, mesmo que não oficiais, para não se decepcionar. É bem desagradável começar a ler ou ver um anime com esperanças que o final seja aquele casal perfeito na cama e no fim tudo não passou de uma amizade suspeita.

TAKEMIYA Keiko é um nomes precursores do Boys Love no Japão, ela fez parte de um grupo de autoras (o 24 Gumi) que lutou para as mulheres serem reconhecidas nessa cultura fazendo com que o Shoujo sofresse grande transformação. Sua obra mais conhecida foi Kaze to Ki no Uta (a canção do vento e das árvores) publicado em 1976 com 17 volumes e uma animação em 1989, além de outras obras importantes.

Kaze to Ki no Uta

Em 1990 as livrarias do Japão finalmente começaram a incluir essa categoria em suas sessões, apesar de que em 1975 a feira conhecida até hoje como Comiket já foi o começo da distribuição do gênero por justamente apresentar os Doujinshis com conteúdo homossexual.

Atualmente o sucesso do gênero já se expande para todo o mundo, no Brasil temos a publicação de Gravitation em 2007 pela editora JBC fazendo sucesso significativo trazendo não somente o mangá, mas também dois novels pela editora New Pop. Graças a esse título, outros puderam ser publicados como Loveless e alguns Oneshots. Ainda é pouco, como fã do gênero Boys Love, posso afirmar que o Brasil ainda tem muito a aprender sobre o que é uma boa obra... infelizmente para a publicação de um mangá é necessário vencer uma série de burocracias que não valem a pena se o rendimento não for alto. Por conta disso ficamos alheios a autores maravilhosos!

Mas não fiquem tristes! É por sites pequenos como esse unido ao amor pelo BL que vamos aos poucos difundindo essa cultura cada vez mais. Ganbatte! (se esforce!)

Miss Rainbow

 

[1] YAOI é um acrônimo para Yama nashi, Ochi nashi, imi nashi (sem clímax, sem ponto, sem significado): uma história onde não se tem enredo, mas está cheia de cena de sexo. Uma visão bastante ruim que se formou sobre os Doujinshis.

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